Por Bruno Viveiros Martins
Publicado originalmente em 22/11/2022
#AbreAspas | No dia 13 de novembro de 2022, Milton Nascimento pisou no palco pela última vez. O Mineirão, em Belo Horizonte, foi o lugar escolhido para a despedida. Aproximadamente sessenta mil espectadores que estiveram presentes no estádio – e um número incontável de pessoas pela TV e internet – assistiram “A última sessão de música”, nome da turnê internacional que viajou por vários países.
O artista encerrou sua trajetória da mesma maneira que começou: com o pé na estrada. Ao longo dessa travessia, a voz de Milton Nascimento congregou vários amigos. Alguns deles toram-se parceiros de uma vida. Vindos das diferentes regiões de Minas Gerais, os integrantes do Clube da Esquina não carregaram consigo apenas influências culturais díspares, mas também experiências e visões de mundo singulares. Cada um trouxe, através de referências pessoais, também um pouco do seu lugar de origem. Nos anos 1960, eles transformam Belo Horizonte em uma “esquina sonora”.
Esquina é um lugar de encontro. Assim como clube traz a ideia da reciprocidade entre iguais. Contudo, quando perguntados sobre o que é o Clube da Esquina e como ele foi criado, os compositores não sabem responder exatamente o que aconteceu de fato. Uma coisa, porém, é certa: a amizade nasceu antes de qualquer uma de suas canções compostas, em sua grande maioria, nas parcerias entre eles. Ou seja, a mistura de convivência, afeto e enriquecimento mútuo que combate a solidão, visando colocar fim à incompletude humana, é o grande segredo dessa obra coletiva de faces múltiplas e rara riqueza musical.
Em todos esses anos, Milton Nascimento e seus parceiros do Clube da Esquina cantaram a liberdade, a amizade, a solidariedade, a justiça, o bem comum, a democracia. Valores, princípios e ideias mais que necessários para fazer do Brasil um grande país.
Lô Borges (em pé), Fernando Brant, Márcio Borges e Milton Nascimento. Diamantina, 1971. Foto: Luiz Alfredo Ferreira. Acervo: Diários Associados/Jornal Estado de Minas.
Bruno Viveiros Martins (@brviveiros). UFMG (@ufmg)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.