Por Alexandre E.V. Alencar e Flávia Medeiros

Publicado originalmente em 09/03/2023

#8deMarço | “Nossos passos vêm de longe” já afirmou Jurema Werneck, então para iniciar a caminhada neste trajeto/texto, gostaríamos de evocar uma de nossas ancestrais, Maria Beatriz Nascimento que observa a pessoa negra como uma totalidade, que passa a ser fragmentada à medida que vai tendo contato com o racismo e sexismo. Mas o que essa e outras mulheres negras, em sua maioria atravessadas por inúmeros processos de violências e opressões em suas trajetórias pessoais e acadêmicas, têm a contribuir com a antropologia e com a ciência de forma mais ampla?

Numa primeira reflexão enxergamos duas faces da mesma moeda, na qual de um lado temos a invisibilidade de antropólogas/o negras/os dentro da história da disciplina. E, na outra, passamos a ter a visibilidade dos privilégios epistêmicos, percebendo que a hierarquização dos saberes é produto da classificação racial da população. Ou seja, quem possui o privilégio racial na sociedade, possui também o poder de enunciar, sendo, sobretudo, o cientista branco masculino aquele representado como detentor do status científico.

Nos termos de Patricia Hill Collins, temos que atentar aos perigos do pensamento dualista moderno-colonial, no qual um elemento do par cognitivo é sempre dominado por sua outra metade reprimida e subjugada. Nesse sentido, romper com binarismos é nos reconhecermos como “presenças que afetam” frutos de histórias múltiplas, e não única, como nos aponta Chimamanda Ngozi, e assim construímos esse campo disciplinar na disputa pelo poder de definição e construção do conhecimento que se define como científico.

Logo, é a partir desses desvelamentos dos efeitos da colonialidade do ser, do saber, do gênero e da natureza, por meio dos nossos saberes e fazeres científicos, que reposicionamos essas vozes na história disciplinar e científica de forma implicada e transformadora, subindo e puxando umas às outras e mostrando que num bom pretuguês, como nos ensinou Lélia Gonzalez, A GENTE JUNTO É BEM MAIOR!

Alexandra E.V. Alencar e Flavia Medeiros (UFSC)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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