Por Arlei Damo

Publicado originalmente em 12/11/2022

#AbreAspas | Desde que o time da CBF se tornou um símbolo de brasilidade, o tempo da copa sempre foi de culto à nação. No compasso desse time dito “do Brasil”, atenuavam-se as diferenças – região, idade, classe, ideologia, etc – em nome da coletividade imaginada.

Desde a redemocratização, as copas antecederam as eleições, cujo tempo é reservado aos debates internos com a explicitação das diferenças. Os embates políticos só adquiriam tração depois que os jogadores voltassem para casa. Quando vencedores, demoravam mais e encurtavam o tempo das eleições. Suspeitava-se que a euforia e o tempo da copa estendido favoreceria quem estivesse no poder, mas jamais ficou comprovado.

A Copa de 2014 extrapolou os contornos temporais e ideológicos usuais. Misturou-se a nação com o Estado desde que o Brasil foi anunciado como sede, em 2006. Foi no espectro das Jornadas de Junho, em 2013, que este imbróglio atingiu o ponto máximo. Os protestos iniciados por quem desejava ampliar a justiça social, culminaram com a emergência de grupos avessos à própria política. Por oportunismo ou pressa, esse pessoal apropriou-se do hino, da bandeira e das cores nacionais. Até a camiseta do time da CBF virou traje de protestos cujas pautas nada têm a ver com a integração que o tempo da copa suscita.

Em 2022 a Copa ficou para depois das eleições – por obra da FIFA, que não é comunista! Vai ter tempo para a Copa, ainda que comprimido. Como recuperar alegorias e adereços usados na composição de cenários e figurinos da copa? Com criatividade não se deixará de celebrar a brasilidade, pois ela não pertence a grupos segmentados. Aglomerações em verde-amarelo daqui até o Natal poderão ser confundidas com torcidas, algumas sob o rótulo de barras bravas. O Brasil nunca precisou tanto que uma Copa tivesse início!

Arlei Damo. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (@ufrgsnoticias)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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