Por Luciana Villas Bôas
Publicado originalmente em 03/11/2022
#Eleições2022 | O primeiro discurso de Lula como presidente eleito revelou à nação toda uma nova investidura do poder. Se é verdade que durante o pleito estavam em jogo dois projetos de Brasil, encerrada a apuração, o vencedor é o povo e é em nome de todos que o novo mandatário promete governar, “não me interessa o partido”.
Lula reclamou para si a tarefa de fazer a mediação entre a participação e a representação. E ao declarar como pretende exercer o cargo da presidência, começou a se investir e revestir, simbolicamente, da unidade dos muitos e da República. Ao contrário do atual ocupante, cujo governo foi marcado pela recusa ao cargo, ele sabe que, na democracia, para realizar o princípio da soberania popular é preciso transformar o majoritário em comum, o comum em bem comum.
Por isso, quem reivindica para si a dignidade do cargo, precisa conhecer as exigências que ele traz: Lula anunciou o combate emergencial à fome, ciente de que faz parte do seu papel a responsabilidade da preservar a vida dos cidadãos e cidadãs. Ao mesmo tempo, porque a natureza do poder na democracia não vem da força, mas do voto, e da livre circulação dos discursos, insistiu que é preciso renunciar às armas e restabelecer o diálogo do governo com a sociedade e do país com o mundo.
Para isso é preciso sujeitar a força à sua legitimação legal, entender que ninguém está acima da Constituição, e buscar a “convivência republicana entre os poderes”. O pronunciamento de domingo à noite foi, assim, uma tomada de posição em relação à democracia, que produziu diante da imprensa reunida e do público em geral uma nova inteligibilidade do poder, um novo modo de fazer política: “que ninguém duvide da força da palavra quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.”
Luciana Villas Bôas. UFRJ (@ufrj.oficial)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.