Por Marcelo Ridenti

Publicado originalmente em 04/04/2023

#AbreAspas | Completam-se 59 anos do golpe de 1964. Já não são muitos os que testemunharam o evento em idade adulta e seguem vivos. A tendência ao esquecimento deve ser combatida, pois seu fantasma segue a assombrar nosso presente.

O regime implantado pelo golpe foi o coroamento de um longo processo de revolução burguesa no Brasil, sob bases autoritárias, como propôs Florestan Fernandes. Acontecimentos recentes revelaram que era ilusório supor que essas bases autoritárias estavam superadas, ou ao menos controladas, pelo processo de democratização vivido a partir da constituição de 1988. Após um governo chefiado por um presidente eleito que se orgulhava não só da “revolução de 1964”, mas também do que se passou em seus porões, a parcela democrática da sociedade brasileira respira aliviada com a vitória da frente democrática nas últimas eleições presidenciais.

Entretanto, volta-se a conviver no cotidiano com o tradicional risco de golpe que sempre rondara a vida política brasileira ao longo do século XX até a bonança que chegou com a chamada Nova República, durando até meados dos anos 2010. A ameaça de consolidação da extrema direita por pouco não se realizou por meios institucionais, pois o presidente anterior perdeu a reeleição por margem estreita. Sua votação majoritária nas regiões mais desenvolvidas economicamente assusta, fazendo lembrar o livro referido do velho mestre e o autoritarismo enraizado não apenas nas elites.

As imagens da comunhão de forças diversas que subiram a rampa do planalto em janeiro com o presidente eleito circularam o mundo em sinal de esperança democrática. A imprensa internacional também propagou as imagens da horda golpista tomando Brasília dias depois. Sinal de que enfrentamos tempos difíceis, de novo, e da necessidade de pesquisa das ciências sociais para desvendar o enigma chamado Brasil e sua inserção na ordem mundial.

Marcelo Ridenti. Unicamp

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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