Por Luis Flavio Sapori
Publicado originalmente em 10/04/2023
#AbreAspas | O caso trágico de Blumenau não constitui fato isolado e aleatório na história recente do Brasil. Testemunhamos desde 2010 diversos ataques a escolas protagonizadas especialmente por alunos ou ex-alunos. Está em curso na sociedade brasileira nova modalidade de violência que se diferencia dos homicídios cotidianos, podendo-se afirmar que se trata de fenômeno sociológico que está se conformando com o tempo.
Não sabemos ainda quais fatores psicossociais estão impactando essa nova modalidade de violência. Os estudos no Brasil são incipientes, ao contrário da produção acadêmica norte-americana, dado que ‘mass murders in schools’ são recorrentes por lá. Abordagem criminológica recente tem se destacado na compreensão do fenômeno, denominada de Teoria da Tensão Cumulativa.
De acordo com teoria, a motivação do indivíduo para cometer os assassinatos resulta de sua trajetória de vida, ocorrendo um acúmulo de frustrações pessoais provenientes de relações sociais instáveis na família, na comunidade e na escola. Estrutura-se uma personalidade pautada pelo ódio e desejo de vingança. Esse indivíduo se associa a grupos de pares que compartilham das mesmas experiências pessoais, especialmente nas redes sociais da internet. Além disso, a facilidade do acesso à arma de fogo é fator de risco inquestionável.
É prematuro afirmar que os eventos ocorridos no Brasil sinalizam a tendência da disseminação de ‘mass murders in schools’ nos mesmos moldes da sociedade norte-americana. Contudo, é preciso reconhecer que há ‘algo novo no ar social’, exigindo mobilização de autoridades políticas, profissionais da educação e da segurança pública, e obviamente do mundo acadêmico.
Luis Flavio Sapori. Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.