Por Petrônio Domingues
Publicado originalmente em 24/05/2023
#AbreAspas | Episódios de racismo no futebol se tornaram comuns, infelizmente. O que distingue o caso Vinicius Jr. é a frequência e a intensidade que eles atingiram. Dentro de campo, Vini Jr. é o mais caçado entre os jogadores das cinco grandes ligas da Europa. Fora de campo, sofre com insultos e ameaças racistas.
Mas por que tanta perseguição? Porque a Espanha vive um momento de ascensão dos movimentos que preconizam ideias baseadas na xenofobia, racismo e intolerância. Javier Medrano, presidente da La Liga (liga espanhola de futebol), p. ex., é apoiador do Vox, partido de extrema direita.
Em segundo lugar, por conta da inércia da La Liga, que não adota ação punitiva mais enérgica contra os torcedores, jogadores e técnicos que hostilizam Vini Jr.
Em terceiro lugar, porque o Real Madrid, clube do brasileiro, é leniente, limitando-se a condenar retoricamente os ataques.
Em quarto lugar, por conta da atuação da mídia espanhola, que prefere pautar as danças e provocações de Vini Jr., ao invés das violências que ele sofre.
Em quinto lugar, porque Vini Jr. é um negro retinto de personalidade, que reage com altivez às hostilidades. Esse seu posicionamento crítico aliado à postura altaneira irritam os racistas.
Os ataques a ele vêm de todos os lados. Enquanto torcedores rivais o chamam de macaco e as autoridades pouco fazem, adversários abusam da violência dentro de campo. A esse cerco de ódio, Vini Jr. reage com um nível de empoderamento inusitado para os jogadores negros. Em setembro de 2022, depois de hostilizado, ele divulgou um vídeo lapidar: “dizem que a felicidade incomoda; a felicidade de um preto, brasileiro, vitorioso na Europa, incomoda muito mais”. É esse preto, de cabeça erguida e sorriso largo, que o racismo quer (re)colocar em seu devido lugar – o da subjugação.
Petrônio Domingues. PPGS/UFS
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.