Por Viviane Toraci – multiHlab
Publicado originalmente em 14/08/2023
#AbreAspas | A Educação formal é campo de disputas constantes, carregada de visões de presente e perspectivas de futuro. No Brasil, identificamos as políticas neoliberais como hegemônicas, conduzindo reformas regulares dos modelos educacionais e curriculares. Como últimos movimentos, a instituição de uma Base Nacional Comum Curricular para todos as etapas da Educação Básica, e a Reforma do Ensino Médio. Aproveitando-se deste momento de mudanças, o Governo Estadual de São Paulo lança a proposta da substituição dos livros físicos por conteúdos digitais. A polêmica nos faz refletir sobre as contribuições das Tecnologias Digitais para os processos de ensino-aprendizagem na escola.
Desde a década de 1980, o poder público brasileiro investe em programas para inclusão das tecnologias na educação. O esforço esteve concentrado em desenvolver recursos educacionais abertos, equipar as escolas com laboratórios de informática e conexão a internet, ofertar formação continuada para profissionais da Educação. Entretanto, mesmo após 40 anos, nossa percepção é que ainda estamos no primeiro degrau da alta escada que nos levaria a uma boa integração das tecnologias em processos educativos.
A solução seria, então, substituir os livros físicos por conteúdos digitais, e assim “aproximar” professores e estudantes de uma “Cultural Digital”? Temos aqui a repetição de um erro. A ideia de que uma nova cultura substituiria o modelo anterior. A Cultura Digital – que nos exige outras relações com o conhecimento humano acumulado, baseado em uma lógica multimodal e interconectada – e o que seria uma Cultura Analógica, baseada na concentração de conhecimentos textuais enciclopédicos. Antes de trazer a solução, ainda precisamos formular melhor os problemas. Por enquanto, preocupa como lidamos com o conhecimento acumulado (e disponível para as Inteligências Artificiais) e a geração de novos conhecimentos pelas mentes humanas. E como iremos preparar as novas gerações neste novo cenário.
Viviane Toraci – multiHlab. Fundação Joaquim Nabuco
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.