Por Inácio Saldanha
Publicado originalmente em 16/08/2023
#AbreAspas | No dia 15 de agosto são celebrados os 200 anos da adesão do Pará à independência do Brasil, a última província a fazê-lo. Se, ao longo de quase todo o período colonial, a administração portuguesa separou o Brasil e o Grão-Pará e Maranhão, sua união no turbulento processo de independência marca a incorporação do território que hoje chamamos de “Amazônia” ao novo país.
Tratou-se de um evento violento, com o episódio conhecido como a tragédia do brigue Palhaço, no qual 256 pessoas foram aprisionadas em uma embarcação, sem ar e água. Retiradas no dia seguinte, quase todas haviam morrido sufocadas ou fuziladas pelos mercenários a serviço do Estado brasileiro. Segundo alguns autores, o brigue foi rebatizado como “Palhaço” após o massacre, o blefe e o saque promovidos para forçar a adesão da província. As revoltas que se seguiram culminaram na Cabanagem, considerada a maior revolta popular da história do Brasil, mas que envolveu os mais variados setores da sociedade local e abrangeu uma enorme área.
Nos séculos seguintes, tentou-se “incorporar” o território pela exploração econômica e as demandas das elites locais. Se estamos hoje em um momento de muitas discussões sobre a Amazônia e a urgência de reagir às mudanças climáticas e intervir na perda de sua inestimável biodiversidade, está cada vez mais claro que este debate necessariamente deve passar pela violência contra seus povos. Para muitos, a Amazônia é uma terra sem civilização. Mas sua história nos permite pensar os problemas atuais e sua relação com o Brasil e o mundo. Esta data, portanto, não pode ser secundária nos debates sobre o bicentenário da independência e o país que construímos para o futuro.
Inácio Saldanha. Doutorando no PPGAS/Unicamp
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.