Por Bruno Viveiros Martins

Publicado originalmente em 17/11/2023

#AbreAspas | Depois de proclamada a República em 15 de novembro 1889, o partido republicano discutia a construção de uma nova capital para Minas Gerais. Diante dos acontecimentos, o governo reorganizou suas forças para ingressar na modernidade, pretendida pelas lideranças políticas. Belo Horizonte nasceu, portanto, do sonho da modernização que visava reunificar o estado em torno de um novo centro econômico e administrativo. Contudo, o mesmo impulso voltado para o futuro que gerou a nova capital, em fins do século XIX, também foi responsável pela construção de uma cidade quase sem vestígios de passado.

Do plano inicial que orientou a construção de Belo Horizonte, apenas o traçado retilíneo de suas ruas e avenidas, cruzadas em ângulos retos e formando grandes tabuleiros de xadrez, permaneceu inalterável. O desenho enfatizava a ordem e a racionalidade. E mais, a primeira capital da República, projetada por um saber técnico e positivista, construída onde antes era o Curral Del Rei, fez com que o velho arraial fosse totalmente destruído. Além de intervir no espaço, os integrantes da Comissão Construtora atuaram como higienistas sociais, expulsando para zonas periféricas, os antigos habitantes do local, assim como os operários responsáveis pela construção de uma modernidade que não era acessível a todos.

Belo Horizonte vive de sonhos a mais de cem e vinte anos. A história da cidade projetada pode ser contada através das esquinas que compõem o peculiar traçado físico e imaginário de suas ruas. Sobre os escombros do velho Curral Del Rey, nasceu e nasce a cada dia uma nova Belo Horizonte. Esquina é lugar de encontros e desencontros. A República, entendida como comunidade autogovernada, evoca a cidade como palco maior da vida pública, exigindo a presença de repúblicos. A cidade sem eles seria um solo infértil para a política. Os repúblicos sem a cidade seriam exilados em uma diáspora sem fim. Quem sabe um dia a República e os repúblicos sem encontram nas esquinas de Belo Horizonte?

Bruno Viveiros Martins. Doutor em História pela UFMG. Pesquisador do Projeto República: núcleo de pesquisa, documentação e memória.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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