Por Nayet Kademián

Publicado originalmente em 16/11/2023

#AbreAspas | Em meio a uma profunda crise econômica e a um clima de revolta cidadã, as próximas eleições na Argentina definirão se daremos um salto no vazio ou se continuaremos a andar na corda bamba.

O crescimento do outsider de extrema-direita Javier Milei apanhou a todos de surpresa, atraindo votos em todas as classes sociais. Sergio Massa, vindo peronismo, perdeu em distritos com elevados níveis de pobreza, marginalização e exclusão.

Hoje o panorama está em aberto: Milei gera medo em quase 50% do eleitorado, mas Massa gera a desconfiança inversa.

São dois modelos de país radicalmente diferentes para eleger. Milei abriu uma panela de pressão e desfez consensos mínimos: educação e saúde públicas, o papel do Estado na economia, e o “Nunca Más” face à última ditadura civil-militar. São grandes riscos.
A cidadania está indo para a direita? Sim e não.

As sondagens mostram que cerca de metade dos participantes de Javier Milei discordam de propostas como a dolarização, a privatização de empresas públicas, o sistema de educação e saúde, a eliminação de políticas de promoção da igualdade de gênero, entre outras. Vão votar em Milei apesar dele ou porque estão confiantes de que, mesmo que quisesse, não seria capaz de levar suas propostas a cabo.

Poucos estão a votar no sim e a chave para o resultado será a quantidade de pessoas que não querem que o outro candidato ganhe. Porém, quem quer ganhe, enfrentará anos difíceis e duros desafios de governança. A extrema-direita chegará ao poder democraticamente? Não sabemos. Mas uma coisa que nós, analistas argentinos, aprendemos é que talvez, entre os países latino-americanos, não sejamos tão diferentes.

Nayet Kademián. Aluna de Doutorado, Ciência Política (Universidad Nacional de San Martín)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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