Por Cristiana Losekann
Publicado originalmente em 22/08/2023
#AbreAspas | Dejar el crudo en suelo (deixar o petróleo na terra) é um lema que há muito tempo vem sendo defendido por organizações ambientalistas (veja @yasunidos) e povos indígenas latinoamericanos. Mas, hoje, no Equador a sociedade sacramentou esse lema votando em maioria no “Sí” no referendo que perguntava: Você concorda que o governo equatoriano mantenha o petróleo do ITT (Ishpingo, Tambococha e Tiputini) indefinidamente sob o subsolo?. A pergunta dialoga com os lemas de movimentos que defendem deixar o petróleo que se sabe existir, embaixo do solo, ou seja, decidir não o extrair.
O resultado da votação referenda a interrupção da extração no Parque Nacional Yasuni, que fica na região da Amazônia equatoriana, considerada reserva da biosfera pela Unesco desde 1989. Mesmo sendo uma reserva tombada, a própria estatal Petroecuador desenvolve atividades extrativistas no local.
Vale lembrar que a amazônia equatoriana e os povos indígenas que vivem na região já sofrem com o desastre iniciado desde 1964 quando a Texaco iniciou a exploração de petróleo causando danos irreparáveis. Dentre as absurdas estratégias exploratórias a empresa chegou, até mesmo, a abrir a mata com jatos de óleo cru.
Esse caso engendra um dos maiores litígios socioambientais da história contra a Chevron, empresa transnacional que adquiriu a Texaco sendo a responsável desde então pelos danos causados na região. Estima-se que mais de 2.000 pessoas tenham morrido de câncer em função das toxinas que poluem a água e o ar. Existem ainda mais de 880 poços com resíduos de petróleo e rios contaminados por derramamentos de óleo cru na floresta.
No momento em que se discute no Brasil a exploração ou não do potencial petrolífero na Foz no Amazonas, a decisão da sociedade equatoriana é de suma importância e significa que, finalmente, os movimentos que lutam pelo Parque Yasuní e pela “Campanha Nenhum Poço a Mais” conquistaram uma ressonância social rara e fundamental para as lutas socioambientais.
Cristiana Losekann (@closekann). UFES
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.