Por Aline Rochedo Pachamama
Publicado originalmente em 10/10/2023
#AbreAspas | Saudações Abya Yala, Tsatêh.
As oralidades e vivências são a essência da palavra, pois a palavra escrita indígena é voz. Forte semeadura o nosso tsatêh Ailton Krenak ser reconhecido em sua voz-escrita e agora membro da Academia Brasileira de Letras. Fato que, esperamos, modificar a perspectiva da sociedade em relação aos saberes indígenas. O histórico do trágico contato com os colonizadores revela, além do genocídio, também o etnocídio que, juntamente com outros fatores, ainda limita a compreensão da “sociedade” (refiro-me à não-indígena) ao real protagonismo e atuação do Povo Originário. A pluralidade de Povos do Brasil, ainda, é desconhecida por parcela majoritária da sociedade.
Há uma vasta bibliografia (indigenista) que não foi escrita pelo indígena. Tais escritos, em alguns casos, se apropriam de nossos conhecimentos e saberes, muitas vezes, traduzidos em vários idiomas, menos no daquele que inspirou o registro. Autoras e autores indígenas atravessam “os abismos da literatura e história oficial” que a colonização registrou e assim, nossas vozes ecoam e as pessoas podem entender que as e os indígenas são parte da sociedade, que têm direitos, podendo falar e escrever sobre os temas que desejarem, inclusive e, principalmente, sobre a história do povo do qual fazem parte e a relação profunda com a Mãe Terra.
Ainda estamos debatendo o Marco Temporal, sendo didáticos a todo momento e explicando ao não indígena o que é “lugar de fala”, e que o nosso saber não cabe na academia. Sonhamos mais livros de autores indígenas nas escolas; a lei 11645/08 honestada no currículo escolar; as casas de rezo não incendiadas: professoras e professores indígenas nas escolas e universidades; o reconhecimento das línguas indígenas. A valorização de nosso povo.
A palavra escrita é coletividade, espaço de memória, um movimento que se propaga, a voz da Ancestralidade e da Floresta. E por ela vibramos.
Schuteh Poteh Tsatêh Aillton. Boa Luz.
Aline Rochedo Pachamama (Churiah Puri)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.