Por Elisa Reis
Publicado originalmente em 22/05/2024
#AbreAspas | A emergência da sensibilidade ecológica é algo tão impactante como foi a crença na possibilidade de desenvolvimento económico contínuo que marcou a transição para os tempos modernos: enquanto nas antigas visões do mundo a sociedade era concebida como subordinada a movimentos cíclicos ou a uma estabilidade apenas perturbada por fatores naturais, a modernidade trouxe a ideia de que era possível crescimento economico contínuo. A fé na ciência e na tecnologia acompanhou os imensos ganhos materiais que a sociedade experimentou nos tempos modernos. Mas estamos pagando caro os custos impostos pela colonização da natureza e nossa dívida avassaladora sobe rápidamente. Apesar de evidências dramáticas e trágicas nesse sentido, na prática caminha lento o reconhecimento de que o futuro da humanidade depende de uma conversão à um padrão auto-sustentável de crescimento.
Ninguém duvida que mudar efetivamente o padrão de crescimento ancorado na soberania do mercado envolve obstáculos monumentais que entrelaçam fatores econômicos, políticos, sociais e culturais. É pertinente lembrar que, como argumentou Polanyi, também foi multidimensional a Grande Transformação que converteu terra e trabalho em capital. Não há dúvida que as ciências sociais, aliás todas as ciências, são sujeito e objeto dos desafios postos pela urgência de responder a desafios postos por riscos existenciais. A colaboração entre os distintos ramos da ciência se faz imperiosa. Também imperiosa é a necessidade de prover subsídios à políticas de mitigação dos custos ambientais e de fortalecimento da resiliência social. Às ciências sociais cabe ainda prover evidências de que a pobreza e as desigualdades, além de perpetuarem injustiças, são parte do problema coletivo que é a crise ambiental. Mais ainda, questões que dizem respeito a governança global e a ação coletiva devem ser cada vez mais centrais na agenda das ciencias sociais.
Elisa Reis. UFRJ
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.