Por Mauricio Priess da Costa

Publicado originalmente em 19/08/2024

#AbreAspas | A participação do Breaking nas Olimpíadas de Paris mostra o poder e a capacidade de mobilização das manifestações negras, populares e periféricas. É importante observar o quanto algumas dinâmicas fundamentais da dança, mesmo as menos formais e atléticas, foram respeitadas nesta derivação esportiva. As medalhas de ouro do b.boy Phil Wizard e da b.girl Ami, demonstram como, além dos movimentos acrobáticos e fisicamente desafiadores, foram exigidos conhecimentos da própria lógica de dançar o Breaking com a valorização de elementos como originalidade, flow – que é uma qualidade estética do hip-hop – e atitude no sentido de espírito de batalha.

O formato de batalhas é, inclusive, outra dinâmica que se manteve bastante semelhante à maneira como ela é performada desde a gênese da dança, mesmo parecendo transgressora em evento tão formal. B.boys e b.girls se encaram, provocam, desafiam e mantém uma tensão constante, deixando a battle ainda mais instigante. Os Djs, Fleg e Phlash, também demonstraram consciência e conhecimento dos fundamentos da dança mixando, em tempo real, músicas clássicas com beats carregados de personalidade e leitura de batalha.

Por mais que a participação do Breaking nas Olimpíadas tenha sido breve, uma vez que a modalidade não estará presente nos jogos de Los Angeles, essa passagem complexificou e expandiu as redes de relações da dança. Suas técnicas e estéticas foram respeitadas e isso ajudou a disseminá-la. Cabe, agora, as organizações locais da dança, as crews, aproveitar este momento de popularização para se organizar e se adaptar, aprofundando o que têm feito há 5 décadas: pesquisar, desenvolver e transmitir o conhecimento corporal das periferias.

Mauricio Priess da Costa (@prof.priess). PGSocio – UFPR- B.boy Maus: Flying Boys Crew /FPRB – Federação Paranaense de Breaking.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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