Por Francisco Mendonça
Publicado originalmente em 01/04/2024
#AbreAspas | A urbanização brasileira se deu de maneira tão rápida, intensa e avassaladora a partir de meados do século XX que se manifesta como uma doença incurável; o antídoto é conhecido, mas o sistema se recusa em tratar; daí gerar uma urbanizite! A transição demográfica brasileira, nitidamente delineada a partir da década de 1960, se fez acompanhar da explosão urbana nacional, com graves sequelas para a sociedade e para o meio ambiente; a transição epidemiológica, par da demográfica, evidenciou desde então a predominância das doenças do meio urbano.
Independente de onde ocorram, o fato é que as Neglected Diseases (OMS) tomam cada vez mais destaque e revelam uma das mais evidentes falhas das políticas públicas de saúde no Sul Global, posto que as doenças da pobreza não recebem a mesma atenção das doenças da riqueza (Cared Diseases?). Em meados da década de 1980 a dengue retornou ao Brasil e produziu sucessivas e cada vez mais graves epidemias (a primeira em 2002, a maior em 2015).
Tratada pela saúde oficial como uma doença urbana (por óbvio; quase 90% da população brasileira vive em cidades), posto que o vetor (Aedes aegypti, no Brasil) se adaptou muito bem às áreas marcadas pela urbanizite, e nas quais impera o descarte de materiais sólidos associado ao déficit do saneamento ambiental e à pobreza, a doença encontra-se envolta em enormes desafios à sociedade.
Para agravar as epidemias e surtos (1,6 milhões de casos / 2023; mais de 2 milhões/casos no início de 2024!), as condições climáticas têm favorecido enormemente a ecologia do vetor que, no âmbito das mudanças climáticas, tem se favorecido de excelentes condições para a proliferação do vetor e a transmissão do vírus. O cenário futuro é de intenso agravamento e expansão geográfica da doença!
Francisco Mendonça. Geografia -UFPR
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.