Por Felipe Maia

Publicado originalmente em 23/02/2024

#AbreAspas | A vida de Luiz Werneck Vianna foi a de um verdadeiro intelectual, cujo conhecimento circulava entre as esferas mais restritas da ciência e a esfera pública mais ampla. Sua notória capacidade de intervenção impressionava, sua escrita despertava atenção, produzia debates, muitas vezes acalorados. Ao mesmo tempo, foi muito mais que um publicista, tendo deixado contribuições relevantes em campos diversos da pesquisa sociológica, especialmente os estudos sobre sindicalismo, o direito e os intelectuais. Sua contribuição teórica é de grande valor para a abertura e a renovação da tradição marxista, com a qual sempre se identificou, bem como para as intrincadas questões que envolvem a história e a política.

Para mim, aqui está um dos pontos mais originais da reflexão de Werneck. Sua sociologia e sua análise política contém uma forte orientação histórica. Mesmo em seus escritos de jornal, a conjuntura só ganhava sentido à luz de uma duração temporal mais longa. Sua concepção de um ator político mais consistente e consciente de seus fins requeria um entendimento de tendências de desenvolvimento mais longas, que não apenas constrangem a ação imediata, mas também oferecem possibilidades. Daí seu enorme interesse pelo Gramsci do “Risorgimento” italiano e de “Americanismo e fordismo”, pelo “Marx do Capital”, como gostava de dizer, por Tocqueville e muitas vezes também por Hegel – lidos, no entanto, pela lente da moderna teoria social e não como pura filosofia da história. Foi ao buscar desvendar os longos movimentos da história política brasileira que Werneck se tornou, ele mesmo, um intérprete do Brasil, que buscou com persistência investigar em nossa história as possibilidades da democracia em sentido amplo, como uma “forma de vida”, cujo valor ético merecia ser alcançado e conferia sentido, acredito, à condição do intelectual.

Felipe Maia. UFJF

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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