Por Marcelo Ridenti

Publicado originalmente em 12/03/2024

#AbreAspas | O golpe de 1964 de imediato censurou e perseguiu intelectuais e artistas engajados no processo de transformação da sociedade brasileira. No entanto, os atos arbitrários, a censura e o sentimento de terror conviveram com relativa liberdade de expressão até 1968. As atividades culturais ganharam importância política especialmente naquele ano de protestos nas ruas contra a ditadura, duramente reprimidas após a edição do Ato Institucional n. 5 em 13 de dezembro.

Não obstante, o regime obteve apoio em círculos intelectualizados, afinal estava em curso um crescimento inusitado dos negócios, que incluía os culturais, incentivados pelo governo. A indústria cultural consolidava-se, por exemplo, pela televisão, o meio de comunicação que mais se desenvolvia. Era necessário contratar profissionais capacitados, muitos deles oposicionistas, o que ajuda a compreender as ambiguidades das classes médias intelectualizadas entre opor-se e colaborar com o governo. E do próprio regime, que incentivava a indústria cultural, as pesquisas acadêmicas e ao mesmo tempo reprimia o mundo da cultura.

Isso não impediu que crescesse uma ampla aliança pelas liberdades, contra a censura, o AI-5 e a própria ditadura. A redemocratização envolveu longa luta e negociação, de que fizeram parte artistas e intelectuais, culminando na Constituição de 1988, que por algum tempo fez imaginar que a sociedade brasileira estava livre do pesadelo do autoritarismo.

Marcelo Ridenti. Unicamp

*Este post não represente necessariamente a posição da ANPOCS.

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