Por Wagner Romão
Publicado originalmente em 11/02/2021.
Desde o início da pandemia as escolas públicas e privadas, da educação básica à universidade, aderiram ao ensino remoto, com maior ou menor sucesso. A medida sanitária expôs desigualdades na capacidade de produção, transmissão e recepção de conteúdo digital, além de gerar sobrecarga de trabalho para professores na nova situação. Intensificou desigualdades de gênero nas famílias, exigindo que as mulheres se desdobrassem em atividades no cuidado da casa, no trabalho remoto e na atenção ao aprendizado infantil.
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Após alguns meses, escolas particulares passaram a pressionar pelo retorno às aulas presenciais, pois vinham perdendo sua clientela para o sistema público. Este movimento foi fortalecido pelo negacionismo do governo federal. Entidades do terceiro setor no campo da educação defenderam o retorno às escolas, sob o argumento das perdas relativas à sociabilidade e ao aprendizado dos estudantes. Esta posição se fortaleceu com o início da vacinação no país.
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Assim, mesmo com o recrudescimento da pandemia, governos e escolas da educação básica vêm retomando as aulas presenciais, uma vez que não poderia mais ser privado o pleno direito à educação. Sindicatos acusam governos de realizarem uma política genocida, elevando o risco de contágio não apenas nas escolas, mas no trânsito para elas. Ambos os argumentos são justos e racionais, porém o diálogo entre os dois campos permanece interditado.
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A lentidão da imunização geral e possíveis reedições com variações do Sars-Cov nos próximos anos requerem amplo debate na sociedade sobre os desafios que estes fenômenos trazem e trarão ao sistema educacional. Escolas melhor equipadas e com menor lotação, a entrada do ensino híbrido (presencial e remoto) no planejamento escolar e a ampliação do acesso ao mundo digital são os principais pontos a sustentar consensos a serem construídos.
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Wagner Romão. Professor do Departamento de Ciência Política (IFCH-Unicamp)
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*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.