Por Tiago Jacaúna

Publicado originalmente em 12/02/2021.

Em 15 de janeiro de 2021, um dia após a morte de dezenas de pessoas por asfixia devido à falta de oxigênio medicinal nos hospitais, Manaus bateu o seu recorde diário de sepultamentos, foram 213, a média diária antes da pandemia era de 30; dados que constatavam a segunda “catástrofe sanitária” na cidade, a primeira ocorrera entre abril e junho de 2020. Desde o dia 6 de janeiro de 2021 Manaus registra diariamente mais de 100 sepultamentos, estima-se que grande parte em decorrência da Covid-19.

Ante esses infelizes números, é comum encontrar nas ruas de Manaus cortejos fúnebres, inebriando o ar macambúzio que envolve a cidade. Manaus se tornou um lugar de despedidas, uma cidade enlutada, onde se compartilha a experiência da dor e da morte. Por intermédio das mídias sociais dos manauaras, explodem notícias de parentes, amigos ou conhecidos que estão hospitalizados, a precisar de oxigênio, lutando contra o vírus. Circunstância que se espalha pelo estado do Amazonas. Ao mesmo tempo, grupos e diversas organizações sociais se mobilizam no intuito de lograr recursos para ajudar a quem precisa. Uma mistura de ativismo e solidariedade que cresce em decorrência das experiências pessoais e coletivas de sofrimento, além de ser uma resposta pública importante diante da inoperância dos poderes constituídos.

Quem vive em Manaus provavelmente percebe que a situação poderia ser controlada. Foram muitos os comunicados de cientistas e manifestações do Ministério Público a respeito da necessidade de medidas restritivas a fim de conter a transmissão do vírus. Porém as ações governamentais sempre foram tardias, descoordenadas e insuficientes; consequência do negacionismo e da má gestão pública. A variante B.1.1.28.1 ou P.1 do vírus, cujas taxas de transmissibilidade e letalidade dão indícios de agravamento do quadro, cobra um preço amargo.

Vivemos tempos de luto, de solidariedade e de indignação.

Fonte de dados: Atlas ODS Amazonas (atlasodsamazonas.ufam.edu.br)

Tiago Jacaúna. Professor do Departamento de Ciências Sociais (UFAM)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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