Por Jorge Almeida

Publicado originalmente em 16/02/2021

Por que Rodrigo Maia e ACM Neto, tão parecidos, brigaram?

Como diria Maquiavel, uniram a “fortuna” de herdar a base política e material dos ancestrais com a “virtu” das lideranças capazes.

Relativamente jovens, têm pai e avô de origens opostas, mas pragmáticos. Cesar Maia, preso e exilado durante a ditadura, foi do PDT. Rompeu com Brizola e migrou para a direita buscando espaço pessoal.

ACM avô subiu na vida política e material apoiando a ditadura. Depois, apoiou Tancredo, Sarney, Collor, FHC e Lula em 2002. Rompeu em 2005, ficou sem governo federal, perdeu o estadual e sofreu infarto.

Como diria Weber, pai, avô, filho e neto, têm a política como vocação e profissão. Todos se encontraram no DEM, partido bisneto da ARENA da ditadura. São daquela família liberal que, “quando necessário”, apoia golpes.

Presidente nacional do partido e principal líder no Congresso, ambos apoiaram o impeachment de Dilma, o governo Temer e a eleição de Bolsonaro.

Mas foram ambíguos com o governo. Deixaram membros do DEM nos cargos e seguiram juntos nos projetos de interesse do mercado. Rejeitaram os discursos ideológicos delirantes e o negacionismo, mas ajudaram a engavetar os pedidos de impeachment.

Derrotado na sucessão da Câmara, Maia se sentiu desmoralizado por Bolsonaro e traído por Neto. Está saindo do DEM, pois quer mais espaço pessoal.

ACM Neto não deve assumir cargos no governo Bolsonaro nem ser seu vice. Pretende ser governador e presidente. Precisa preservar sua imagem e não ser desmoralizado publicamente como ocorre com o vice e ministros atuais.

Como diria Gramsci, são da elite política da hegemonia burguesa no Brasil, como a família Bolsonaro.

Mas, somente os interesses de classe não alimentam a busca pessoal por espaços de poder.

Enfim, trocam cotoveladas, mas seguem na mesma família política. Têm pés no chão. Como diria a velha raposa da UDN mineira, Magalhães Pinto, que vivo fosse estaria no DEM, “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.

Jorge Almeida. Professor do Departamento de Ciência Política, do PPG de Ciências Sociais e do Mestrado em Ciência Política da UFBA.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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