Por Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti

Publicado originalmente em 17/02/2021

No país do carnaval, a data festiva é esperada com expectativa. No Rio de Janeiro, cerca de 70 escolas de samba mobilizam-se. Nas maiores, o fabrico do desfile vindouro se inicia já na Quarta-feira de Cinzas e acelera-se gradualmente depois da Páscoa.

O carnaval nasce, morre e renasce de forma ininterrupta; o ano de quem faz carnaval corre na frente do ano corrente: mesmo sem desfiles já ingressamos no carnaval 2022!

O calendário festivo carnavalesco não foi abolido em 2021, mas bruscamente interrompido pela pandemia. O impacto sobre as agremiações foi imenso. Há múltiplos carnavais dentro das escolas de samba: mestres-sala e porta-bandeiras; mestres e ritmistas; carnavalescos, figurinistas, decoradores, marceneiros, ferreiros e escultores; comissões de frente e coreógrafos; passistas e destaques; compositores e diretores de harmonia; as alas e seus componentes; as diretorias das agremiações e associações carnavalescas.

Cada um desses elementos transita em um mundo social próprio rearticulado e reunido em torno do fabrico anual do novo enredo a ser levado à passarela. Os desfiles são a culminância de um ano de trabalho festivo que movimenta também a economia e o turismo urbanos.

Nada disso pode acontecer diante da impossibilidade da ocupação dos espaços físicos das celebrações. Ano de carências, sofrimento e aflições. As lives e clipes preencheram virtualmente essa falta, mantiveram viva a memória da festa.

Elaboraram-se enredos e sambas-enredos de destino ainda incerto, pois mesmo na falta da celebração do carnaval 2021, um novo carnaval se desenha no horizonte, trazendo esperança de renovação e de vacina para esse alongado tempo pandêmico de restrições e espera.

Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti. Antropóloga e professora titular (UFRJ)

Foto: Maria Laura Cavalcanti. Barracão das Pequenas Escolas de Samba. Campinho. RJ. 2011.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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