Por Tatiana Lotierzo

Publicado originalmente em 22/02/2021

#ANPOCSVisual: A foto é parte da série que registra a performance Sara Indi (Milho de Sol, 2013)[https://rosaximenatisoy.wixsite.com/rosy-tisoy-/portafolio], de Rosa Tisoy, artista inga do Vale de Sibundoy, na Colômbia.

Na performance, a filha de Rosa, Sofía, colou grãos de milho no corpo da mãe, formando desenhos abstratos – espirais, linhas que irradiam de um centro comum, círculos concêntricos, composições que saem de losangos. Vê-se um corpo decorado de grãos, feito terra. Ele cresce com o milho e a partir dele, feito milho. Primeira relação: semente, germinação, crescimento. A mãe cresce das mãos da filha.

Milho é o principal alimento, no Vale de Sibundoy. Milho de sol, como se diz, é o milho maduro ao qual o sol transfere sua cor. Os primeiros dentes de uma criança são dentes de milho; a planta é “milho moça” quando já resiste às rajadas de vento forte.

Há mais para ver. Um desenho é amarração. As linhas enlaçam uma figura e criam um dentro e um fora. Dentro = algo amarrado; fora = vastidão. Amarram-se desenhos como esses na faixa chumbe, que amarra o corpo, que o sustenta e segura “pela matriz”, feito raiz na terra. O corpo é desenho, um design que retém sua forma e consegue crescer no fluxo de relações que passam pelo milho: cuidado, nutrição e conhecimento que atravessa gerações. Design amarrado pelo umbigo (kosko) aos lugares que importam.

Se os olhos de Rosa não aparecem, quem nos olha são os grãos: semente é também ñaui, palavra para olho. O chumbe ensina que o corpo nasce a partir dos olhos (uigsa ñaui, olhos de ventre) e que eles seguem desincorporados (chaska ñaui, olhos de estrelas), quando a vida se esvai em outro tempo. A vida cresce pelos olhos (e sementes), em corpos diferenciados que veem uns aos outros e, pelo olhar, perpetuam existência. Já a pesquisa de campo amplia o olhar e o mundo de quem vê.

Aprendizagens recebidas de Rosa Tisoy.

Sugestão: Warmity, site de Rosa Tisoy [https://rosaximenatisoy.wixsite.com/rosy-tisoy-].

Tatiana Lotierzo. Doutora em Antropologia pela UnB.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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