Por Schneider Carpeggiani

Publicado originalmente em 04/03/2021

#ANPOCSLiteratura: A escritora argentina Mariana Enríquez (@marianaenriquez1973) certa vez foi questionada sobre sua obsessão por postar imagens de cemitérios em seu perfil do instagram. Sua resposta foi simples: num país como a Argentina, em que tantos foram torturados e desaparecidos, a imagem de uma sepultura deveria trazer conforto.

O túmulo ausente é a certeza da impunidade. A marca maior da literatura de Enríquez é justamente o choque entre o horror mitológico e o horror histórico. Seu romance Nuestra parte de noche (que é lançado no Brasil no começo do segundo semestre) é uma longa e perturbadora narrativa dum país traumatizado por seu passado fascista. É também a saga duma família perseguida por uma seita misteriosa.

O fantasma nos livros de Enríquez sempre é um elemento que tem autonomia absoluta. São os senhores do nosso destino. Fantasmas são nosso direito primordial. Em determinado momento um dos personagens implora, “no me dejes solo, haunt me”. É que uma ditadura pode até prescrever algum dia. Mas a assombração que ela deixa pra trás, jamais prescreve.

Foto: Mariana Enríquez (@marianaenriquez1973)

Schneider Carpeggiani (@schneidercarpe). Editor do @suplementope

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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