Por Ruben George Oliven

Publicado originalmente em 11/06/2021

#AbreAspas | O presidente Fernández da Argentina reviveu há poucos dias um preconceito antigo que existe entre alguns argentinos em relação a nós. Ele afirmou que os argentinos chegaram em barcos que vieram da Europa, enquanto nós teríamos saído da selva.

O conceito de “silvícola” foi abolido há tempo e seu uso revela o desconhecimento histórico do mandatário argentino. A realidade mostra que, embora seja corrente a autoimagem da Argentina como um país de origem e cultura europeia, há uma forte presença indígena e africana em sua população. Mas ela é negada desde que Sarmiento escreveu Civilização e Barbárie.

Esta presença aparece fisicamente nos “cabecitas negras”, que morreram na guerra das Malvinas e em expressões culturais pouco valorizadas pela visão hegemônica do país, inclusive o crescimento de religiões de matriz africana importadas do Brasil.

Já o nosso país, desde Gilberto Freyre, se apresenta como uma nação mestiça em que a identidade cultural seria formada pelas influências portuguesa, indígena e africana. Nossas manifestações culturais apresentadas como tipicamente brasileiras são fortemente calcadas na herança africana. Isto vale para a música, o carnaval, o estilo de jogar futebol, a capoeira e a religiosidade.

Este modelo contrasta com o fato de que, embora a população negra seja mais numerosa que a branca, os afrodescendentes são os que têm os piores índices de qualidade de vida, no que é chamado de racismo estrutural. Da mesma forma, embora a visão romântica dos indígenas seja valorizada em parte de nossa literatura, eles são espoliados e suas terras são invadidas. No fundo, trata-se de dois modelos diferentes de racismo e não faz sentido decidir qual é o pior. Ambos são inaceitáveis.

Ruben George Oliven. UFRGS (@ufrgsnoticias)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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