Por Karina Almeida de Sousa

Publicado originalmente em 15/06/2021

#AbreAspas | A última semana será lembrada pelo gosto amargo da revolta e dor causados pela morte dos jovens negros Kathlen Romeu, no Rio de Janeiro e de Luís Carlos Sousa de Almeida, na cidade de Porto Franco/MA.

Luís era um jovem gay e negro de 19 anos que, entre muitos feitos como ser um ótimo amigo e um exímio maquiador, foi aprovado neste ano no curso de Pedagogia da UFMA. Ele nasceu e cresceu em Porto Franco, cidade localizada no extremo sul do Maranhão.

Relatos dos seus familiares e amigos nos contam sobre um jovem lutando contra um processo depressivo profundo, e que por algum motivo na sexta-feira, 04/06, o agravamento disso levou-o a extremar seu pedido de ajuda.

Despiu-se ainda em sua casa e caminhou por cerca de 2 km dela até a margem do Rio Tocantins. No Norte estamos na alta temporada de veraneio, as praias de água doce ressurgiram, as ruas, mesmo em tempos de pandemia, estão lotadas. Foram essas ruas lotadas as testemunhas do pedido de socorro de Luís.

Durante este percurso ele foi seguido por uma viatura da Polícia Rodoviária que, em nota, informou que a abordagem não foi realizada devido ao jovem oferecer resistência, e ainda que a suspensão da escolta ocorreu quando Luis adentrou uma propriedade privada. Também a PRF diz ter acionado a PM.

Esta, por sua vez, informou que não havia viaturas disponíveis. Não houve empatia “disponível” e “garantia do direito à vida” entre as instituições e muitas pessoas que se omitiram, assistiram, gravaram, fotografaram e distribuíram nas redes sociais o caminhar de Luís.

O pedido de buscas, já do corpo do jovem Luís, que poderia ter sido um professor, pesquisador, maquiador, tudo isso e outras muitas coisas, não se realizou. Os bombeiros foram acionados apenas na manhã de sábado.

Luís não se suicidou, foi suicidado por uma sociedade onde jovens negros em suas experiências, práticas e agências são, sucessivamente, impedidos de realizar, de criar, de experimentar, de viver.

@justicaporluiscarlos

Karina Almeida de Sousa. Socióloga, professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia UFMA/Imperatriz

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

Deixe um comentário