Por Patrice Schuch
Publicado originalmente em 16/06/2021
#AbreAspas | A ação criminosa de grupos de haters contra eventos e aulas na área das Ciências Sociais, como a ocorrida no dia 08 de junho em mesa sobre deficiência e acessibilidade do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS, tem se tornado rotineira no Brasil há dois anos. Explicitamente forjados contra a produção de um espaço público menos marcado por linhas hierárquicas de poder, muitos ataques são discursos de ódio dirigidos às feministas, pretos, indígenas, populações LGBTQIA+, pessoas com deficiência e outras minorias.
Xingamentos e palavras de ordem racistas, misóginas, capacitistas e xenofóbicas totalizam a violência e impedem o diálogo. São invasões que tentam inviabilizar a formação qualificada de estudantes e a conformação de formas de pensamento críticas e propositivas, próprias de uma sociedade democrática. Procuram reprimir a criação e expressão de ideias numa das instituições brasileiras que mais se democratizou nos últimos vinte anos – a universidade – a partir da adoção das políticas afirmativas.
Comprometidas com o pensamento crítico e com um projeto de sociedade em que populações minoritárias possam vivenciar direitos e exercer sua cidadania, as Ciências Sociais têm sido alvos especiais dessas formas difusas de censura. Tais práticas se coadunam com certas declarações e ações públicas que não apenas desqualificam a área, mas também dificultam ou impedem sua efetivação através da diminuição ou corte de financiamentos em pesquisa, particularmente significativos nos últimos anos. Tomados em conjunto, não são apenas formas de controle das Ciências Sociais, mas ao que tais ciências apoiam e representam: uma sociedade diversa, inclusiva e democrática. Contra isso, não podemos silenciar. Não podemos tolerar. O mal, não podemos banalizar.
Patrice Schuch. Professora do Departamento de Antropologia e do PPGAS da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (@ufrgsnoticias)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.