Por Jacqueline Sinhoretto

Publicado originalmente em 21/06/2021

#AbreAspas | 400 policiais mobilizados para a captura de um acusado. A TV fala em honra para a polícia. Algo estranho sequestra os valores, objetivos e métodos da polícia no Brasil. Caça toma lugar da eficácia e honra toma o lugar do trabalho integrado em segurança.

Uma mulher grávida, 24 anos, foi morta e nenhuma mobilização de forças policiais para capturar seus assassinos. Ou os de 15 mulheres grávidas já executadas “por engano” em operações policiais no Rio de Janeiro.

Os policiais que invadiram um baile funk em São Paulo em 2019, violando protocolos de ação profissional, causando a morte de 9 jovens, não foram punidos. Não se considerou que eles violaram as leis.

Algo em comum nesses casos transcende a conduta violenta ou a inocência dos envolvidos. Há violências que importam e outras não são sequer compreendidas como violências.

Negros são encarcerados numa proporção 3 vezes superior a brancos. E quando atira, a polícia mata 4 vezes mais quando está diante de peles negras. Drogas e patrimônio ocupam o trabalho policial. Violência contra a mulher, racismo, homofobia sequer fazem parte do vocabulário.

Uma polícia cara, com grande capacidade de destruição de vidas, pode montar operações grandiosas. Mas é incapaz de produzir a proteção por não enxergar seus clientes sob aparência de mulheres e adolescentes negros.

A onerosa e ineficiente polícia não causa impacto sobre o mercado de drogas, por isso o mundo coloca a maconha sob o controle do Estado e do mercado e discute destinar recursos para amenizar os problemas sociais durante a pandemia. Enquanto no Brasil bolsonarista, a polícia está mais cara, mais letal e partidária.

Hora de pensar em formas efetivas e racionais de reduzir a violência, com políticas baseadas em evidências. Hora de chamar a polícia à responsabilidade profissional diante de desigualdades, resgatando-a da fantasia de caçadora de monstros.

Foto: Reprodução/Dado Galdieri

Jacqueline Sinhoretto. Professora do Departamento de Sociologia da UFSCar

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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