Por Paula Lacerda

Publicado originalmente em 22/06/2021

#AbreAspas | Após quase um ano e meio desde o início da crise sanitária global, para nós brasileiros, pensar na pandemia da COVID-19 significa acionar o tempo presente, pois a pandemia ainda deixa severas marcas entre nós. Na semana passada, alcançamos a triste marca de 500 mil mortos.

Conforme especialistas, se o Brasil estivesse acompanhando a média de mortos no mundo, teríamos 125 mil mortes. Isso significa dizer que 375 mil pessoas estariam vivas – pais ou mães de alguém, filhos, donas de casa, empregadas domésticas, estudantes, professores, pessoas com ou sem doença prévia. Saber que a estrutura pública de saúde e de assistência social brasileira poderia dar conta de uma campanha de combate à Covid-19 e de imunização de forma muito mais ágil e massiva do que a que estamos acompanhando, faz crescer ainda mais o pesar e a indignação.

Para pensar nos sentidos e efeitos da pandemia da Covid-19, nós cientistas sociais temos mobilizado diferentes abordagens, métodos, conceitos, teorias, bibliografias. Como em muitos cenários catastróficos, a posição dos cientistas sociais vem sendo múltipla: pesquisar, produzir conhecimento qualificado, aprimorar políticas públicas, denunciar violências e desigualdades, e também, produzir sentidos coletivos para dores e sofrimentos que são experienciados como únicos e inigualáveis.

500 mil mortos é um triste marco. Meio milhão de pessoas deixaram de existir. Muitos desses mortos faleceram em situação de sofrimento. Muitos faleceram quando já havia possibilidade de imunização para a Covid-19. A solidariedade e a indignação, que nunca foram antíteses, são algumas das respostas possíveis a esse cenário de dor e de sofrimento no marco de 500 mil mortos.

Paula Lacerda (@paullamaria). Professora de Antropologia da UERJ (@uerj.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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