Por Ricardo Festi
Publicado originalmente em 12/07/2021
#AbreAspas | No contexto de crise do capitalismo neoliberal, o governo ultrarreacionário de Bolsonaro segue com sua sanha de transferir o patrimônio material e imaterial do país para as mãos do grande capital. É nesse cenário que se inserem as propostas de contrarreformas tributária, fiscal e administrativa e, em especial, de desestatização de empresas públicas.
Pautar a privatização dos Correios na Câmara dos Deputados, na próxima semana, objetiva desviar a atenção da atual crise política, econômica e social que tem feito Bolsonaro declinar em todas as pesquisas de opinião. Mas, sobretudo, busca acenar aos empresários que ameaçam retirar o seu apoio diante de suas dificuldades em cumprir a agenda neoliberal.
Os discursos ideológicos e falaciosos que acompanham essas contrarreformas e privatizações ressaltam a suposta ineficiência do Estado e das instituições ao lado do mantra da necessidade de mais austeridade. A verdade é que o Correios (que é muito mais que uma empresa de entregas) apresentou em 2020 um lucro líquido de R$1,53 bilhão – o maior resultado nos últimos 10 anos – e um crescimento de 84% do seu patrimônio líquido.
O Correios é a segunda empresa que mais emprega com carteira assinada no país, somando 117,5 mil funcionários. A sua privatização permitirá avançar na destruição dos empregos celetistas e no processo de uberização, isto é, na implementação do trabalho sob demanda, intermitente, sem um salário e uma jornada fixa, e provavelmente intermediado por plataformas digitais.
O que se busca, portanto, é transferir para os grandes monopólios um dos maiores filões da economia, o da logística. Grandes empresas que atuam nessa área, em particular no e-commerce – que cresceu significativamente durante a pandemia e com a revolução digital -, estão sedentos por se apropriarem deste setor e monopolizá-lo.
Ricardo Festi (@ricardo.festi). Professor do Departamento de Sociologia (SOL, @sociologia.unb)) do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Brasília (UnB)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.