Por Luiz Recaman
Publicado originalmente em 17/08/2021
#AbreAspas | Monumentos ou são remanescências ou são artefatos projetados e construídos em um determinado presente. Sempre elegem e sintetizam, presentificando-os, acontecimentos e memórias para que signifiquem lições e aspirações de um grupo. O Edifício do MESP, agora Palácio Capanema, é um caso emblemático. Poucos edifícios puderam oferecer com tamanha clareza uma construção total do passado, presente e futuro de uma sociedade. Os modernistas escolheram: um passado colonial amplificado e aliviado das tensões da escravidão, e portanto pré-burguês. Um presente em que refutavam a velha república e suas oligarquias – e portanto a forma de suas cidades atravessadas por grandes avenidas e palácios ecléticos. E um futuro, digamos, racional e solar propiciado pela ciência e a indústria. Uma nação forjada, então, ainda nos andaimes da construção do Estado Nacional levado a cabo pelo varguismo. Nada disso seria possível, como o foi, sem a construção de potentes representações unitárias idealizadas sobre a realidade fragmentada da cultura e do poder no Brasil pré-1930.
Existe um ciclo histórico claro que vai do MESP a Brasília: a confluência de projetos das vanguardas artística, cultural, política e econômica que permitiram o sonho da revolução brasileira e a construção de uma nação independente. As contradições desse projeto nacional não precisam aqui ser destacadas. O MESP (1936-1942) é uma forma de progressividade em nossa modernização conservadora. A partir dele se desenvolve o que entendemos por “arquitetura moderna brasileira”, que se exaure quando o modelo desenvolvimentista deixa claro os seus limites. Trata-se do mais importante edifício moderno da primeira metade do século XX no Brasil e um dos mais importantes da arquitetura internacional. Sucateá-lo é sucatear o Brasil e suas possibilidades.
Luiz Recaman. FAU-USP (@usp.oficial)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.