Por Bernardo Fonseca Machado

Publicado originalmente em 27/08/2021

#AbreAspas | A morte do intérprete silencia uma nação. Afinal, o seu corpo em repertório emociona plateias, fabrica memórias e faz da(s) história(s) a matéria em ato. Neste agosto, nos despedimos de três homens da cena: Paulo José (o incansável), Tarcísio Meira (o estelar) e Paulo Gaeta (o bufão urbano).

Nascido em Lavras do Sul (RS), Paulo José Gómez de Souza se mudou para São Paulo no início da década de 1960, onde começou a trabalhar no Teatro de Arena e ampliar os limites políticos e cênicos de um país sob a ditadura. Inquieto, ele atuou em filmes do Cinema Novo, como “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade, e “Todas as mulheres do mundo”, de Domingos Oliveira. Seu olhar doce e generoso mirava a liberdade num Brasil aprisionado pelo autoritarismo.

Já o paulistano Tarcísio Meira estreou na Rede Globo em 1967. Durante as seis décadas de profícua atividade, acumulou mais de 60 trabalhos na TV, 22 longas-metragens e 31 peças de teatro. De seu largo sorriso, as histórias do país ganharam fôlego – como na minissérie “O tempo e o vento” de 1985, baseada na obra de Érico Veríssimo e dirigida pelo colega enérgico Paulo José.

Paulo Gaeta, por sua vez, era o artista da rua e dos palcos sensíveis. Apesar de menos afamada, sua arte transformava a vias urbanas com a imaginação e a voz de trovão que lhe eram características. Ele, artista da praça, resistiu às intempéries, aos descalabros e insistiu em levar a dramaturgia democrática para qualquer viajante urbano. Gaeta, como era conhecido, impressionava pela vivacidade e pela generosidade transbordante.

A esses intérpretes do Brasil presto minha sincera homenagem. Afinal, sob seus corpos, aprendi (e aprendo) sobre nossa moral singular, nossas expectativas de existência e nossas histórias incontáveis e diversas.

Bernardo Fonseca Machado. Unicamp (@unicamp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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