Por Paulo César Ramos

Publicado originalmente em 02/09/2021

#AbreAspas | O último Atlas da Violência publicado esta semana traz ao público uma informação que todos já conhecem: a de que negros são as vítimas mais frequentes de homicídios no país. Existem variações de taxas, bem como diferenças no total entre regiões e estados, e uma concentração nas capitais e regiões metropolitanas.

A grande questão que se deve colocar é: até quando?

Ao longo das últimas quatro décadas há um aumento geral do número absoluto dos homicídios, mas a participação de negros entre as vítimas tem se acentuado – atualmente o que gera a taxa de que um negro tem 2,6 vezes mais chances de ser assassinado do que um branco.

Paradoxalmente, isto tem marcado o próprio processo de democratização do país. Trata-se de uma evolução constante, que saiu da ditadura militar, passou pela ampliação das liberdades e de direitos sociais e se mantém firme durante os anos de Jair Bolsonaro e de Pandemia da COVID 19.

Redução da miséria, ampliação da renda, dos direitos políticos e sociais, maior acesso à educação, entre outros, não impactaram no sentido de reverter o quadro de violência a que, especialmente, jovens negros do sexo masculino são submetidos historicamente.

Os movimentos negros, que nos anos 1980 faziam sua própria contagem de pessoas assassinadas nas favelas, têm chamado esta situação de genocídio, imprimindo ao termo um sentido que outros atores tomaram emprestado para classificar o governo Bolsonaro.

Mais do que políticas sociais voltadas à população negra, o que se sabe é que é preciso repensar profundamente as instituições que deveriam atuar para impedir que chegássemos a este ponto, como as polícias e o sistema de justiça criminal.

Paulo César Ramos (@ramos.pc). AFRO Cebrap.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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