Por Maurício Acuña

Publicado originalmente em 11/09/2021

#AbreAspas | O dia 11 de setembro de 2021 marca os 48 anos do golpe militar que destituiu o presidente Salvador Allende e o projeto de um socialismo democrático no Chile, instaurando uma das ditaduras mais violentas do século XX. “Crear, crear, poder popular,” foi uma das muitas consignas que se ouviram no país nas manifestações de apoio às nacionalizações e às reformas agrária, na educação e na saúde.

Diversos fatores conduziram ao golpe, tais como desabastecimentos, greves de caminhoneiros, atentados, apoio da CIA e a atuação da marinha e do exército chilenos. Da “doutrina do choque” que prendeu, torturou, assassinou e desapareceu com milhares de pessoas, emergiu o primeiro laboratório da nossa era neoliberal, gestada pelos economistas da Universidade de Chicago. Paulo Guedes, um dos não tão brilhantes chicago boys que passou pelo Chile, hoje preside uma das maiores economias do mundo, demonstrando como a ortodoxia econômica e o conservadorismo político podem ser vasos comunicantes no Cone Sul.

O trágico encerramento da experiência chilena circulou pelo mundo com as chocantes imagens dos bombardeios contra o Palácio de la Moneda, de onde Salvador Allende sairia morto. 48 anos depois do golpe, chilenos e chilenas ainda procuram desconstruir “a máquina Pinochet” como escreveu Diamela Eltit em ensaio. As perspectivas abertas pela convenção constitucional eleita este ano apontam para novas experiências, menos marcadas pelo “homem” como significante “universal.” Dos terremotos sociais que sacudiram as ruas do país para demandar mudanças, destacam-se as mulheres, que alcançaram uma representação majoritária entre as constituintes eleitas. E para abrir ainda mais as alamedas dos desejos que reimaginam a nação pós Pinochet, a presidente da convenção é uma líder indígena Mapuche.

Mauricio Acuña (@antroporpoesia). Universidade de Virgínia

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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