Por Carla Dias Oliveira

Publicado originalmente em 16/09/2021

#AbreAspas | Falar sobre menstruação na sociedade brasileira é um tabu ainda a ser enfrentado. Nomes são dados para o período menstrual e a tarefa de explicação de como usar o absorvente a partir da menarca normalmente é designada para a mãe ou para a figura que assume o papel materno na família. Em um momento de crise econômica, como a que passamos em decorrência da pandemia de Covid-19 e da falta de medidas de contenção e gerenciamento, o absorvente mensal passa a ser visto como supérfluo e substituível. Por consequência, pessoas que menstruam recorrem à medidas de urgência para conter o sangue mensal, como tecidos velhos, folhas de árvores e até mesmo miolos de pão, que podem causar inclusive problemas de saúde. Isso configura a pobreza menstrual, a falta de acesso aos itens básicos de higiene menstrual, juntamente com a falta de saneamento básico e de educação menstrual e sexual.

Segundo dados da pesquisa “Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdade e Violações de Direitos”, realizada pelo UNFPA e pelo UNICEF, cerca de 4 milhões de adolescentes são atingidos pela falta de dignidade menstrual e perdem até 45 dias letivos, interferindo diretamente no desempenho. Em termos de desigualdade de gênero, o reflexo da falta de segurança menstrual no período é um dos fatores para a falta de autonomia financeira entre mulheres cis, homens trans e de outras identidades que também menstruam.

No dia 26/08/21, foi aprovado na Câmara Federal o Projeto de Lei 4968/2019 de autoria de Marília Arraes (PT/PE) que tem como principal objetivo o combate à pobreza menstrual no Brasil através de medidas que viabilizem o acesso aos produtos de higiene menstrual para mulheres de baixa renda. O Senado corroborou a decisão no dia 14/09. Não se trata somente de manter a dignidade em menstruar, mas também de políticas públicas que assegurem direitos básicos que estão constantemente em risco em meio às desigualdades que atravessam a população brasileira. A menstruação é somente a ponta de um iceberg.

Carla Dias Oliveira. Historiadora e mestranda em Sociologia da Unicamp (@unicamp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

Deixe um comentário