Por José Szwako
Publicado originalmente em 16/09/2021
#AbreAspas | Fake news faz parte da nossa vida. Quem nunca contou uma mentirinha para a namorada?” – foi isto mesmo que disse o Presidente Bolsonaro em meio à tentativa – saia justíssima – de refazer as pazes com o Judiciário e com Legislativo após o golpismo desenfreado no 7 de setembro.
Essas duas frases sintetizam de forma exemplar não apenas a forma como Bolsonaro pensa e age politicamente, mas também como suas bases radicalizadas o veem e o que elas esperam dele. A defesa da propagação de fake news se dá em meio a um intenso conflito político ao redor do marco civil da internet. Se entendermos que tal propagação é em si um projeto ativo de produção e difusão de desinformação, com profundas consequências eleitorais, não é difícil imaginar porque esse governo, mais do que defender, produz fake news e depende delas em boa medida.
No entanto, a defesa das fake news é mais que isso. Aos olhos dos grupos extremistas reunidos nos WhatsApp e Telegrams da vida, fake é a imprensa convencional e hegemônica (Folha, Globo, etc.) por eles jocosamente chamada de “extrema-imprensa”. Para a parte fiel e radicalizada das bases bolsonaristas, fake news é o que se lê e se ouve dia após dia, são as críticas dirigidas ao “mito”. Assim, a defesa do presidente é, para eles, a defesa da sua liberdade não só de distribuir desinformação, mas, sobretudo, de estender seu conspiracionismo à imprensa convencional. Analogamente ao negacionismo projetado em cientistas e institutos de pesquisa, o conspiracionismo intelectualmente influenciado por O. de Carvalho projeta na mídia seu ódio e sua defesa de um ideal regressivo de “liberdade”, que desconhece qualquer marco, desconhece sanções e limitações institucionais: um vale tudo pré-contratual ou a lei do mais forte.
José Szwako. Professor e pesquisador do IESP-UERJ (@iesp.uerj)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS