Por Natália Carvalhosa e Thiago B. Peres
Publicado originalmente em 29/10/2021
#AbreAspas | O relatório da FAO de 2021 mostra que mais de 118 milhões de pessoas no mundo passam fome com a pandemia. Porém, a insegurança alimentar no Brasil é também fruto do projeto de desmonte das políticas para a agricultura familiar e segurança alimentar. A Rede PENSSAN (2021) identificou 116,8 milhões de pessoas com algum grau de insegurança alimentar no Brasil. Em 2018, 10,3 milhões de pessoas viviam com insegurança alimentar grave, passando para 19,1 milhões em 2020 com a pandemia.
Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome com programas de transferência de renda, apoio à agricultura familiar e demais ações do Fome Zero. Em 2016 a escalada conservadora estingue o MDA em detrimento da agricultura familiar. O atual governo realiza ataques a terras tradicionalmente ocupadas e atualiza um “mundo dividido em compartimentos”, segundo Fanon. 31,7 milhões de trabalhadores subutilizados (Pnad Contínua- IBGE), a inflação no preço dos alimentos atingindo sobretudo os mais pobres (IPEA, 2021) e a redução do valor dos auxílios emergenciais compõem um cenário dramático e traumático, digno de um governo genocida.
Sem as reparações históricas e sociais de acesso à terra e aos direitos humanos fundamentais, a insegurança alimentar no país atinge mais as pessoas em desemprego, trabalho informal e principalmente mulheres autodeclaradas pretas/pardas com menor escolaridade (VIGISAN, 2020). Se “Quem inventou a fome são os que comem”, só é possível reverter esse quadro crítico através de políticas públicas eficientes de combate à fome e às desigualdades estruturais que a produzem.
Natália Carvalhosa (UFRJ, @ufrj.oficial) e Thiago Brandão Peres (IESP/UERJ, @iesp.uerj).
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.