Por Francirosy Campos Barbosa

Publicado originalmente em 11/11/2021

#ANPOCSMúsica | Marília Mendonça se encantou em 05 de Novembro de 2021, tinha 26 anos, deixa um filho com menos de dois anos, família, amigos e uma legião de fãs no Brasil e no exterior onde os seus shows já estavam esgotados. Faço parte do grupo de pessoas que conhecia o trabalho de Marília. Era Gabriel, meu filho, quem me dizia: escuta esta Mulher! A admiração não era só pela voz potente, mas pela letra sobre uma mulher insubmissa expulsando o homem da relação abusiva.

Em sua música INFIEL, cantava: “Assuma as consequências dessa traição”. Já era um fenômeno que em pouco tempo, ao lado de tantas outras, foi chamado de feminejo – um sertanejo feminino. Em suas canções, ela cantou o amor não correspondido, a traição, a violência de gênero, a prostituição, dá conselho às amigas, se diverte com elas. A mulher não é a coitadinha, ela é aquela que SUPERA, se coloca diante da situação com empatia: “Para você isso é amor…, para de insistir, o que você está passando eu já passei, se ele não te quer – SUPERA”. De mulher pra mulher, supera/ De mulher pra mulher, SUPERA. Marília Mendonça escancara as fissuras deste espaço tão masculino e machista que é o sertanejo.

Seu último trabalho em parceria com Maiara e Maraísa “As Patroas” tem uma música que as cantoras falam sobre a violência de gênero e no clip falam para que denuncie (VOCÊ NÃO MANDA EM MIM) – seu amor é mal acostumado a gritar e a proibir, você não manda em mim, eu sei o que eu posso vestir,… você sabe o caminho da porta… primeiro aprende a ser homem). Marília Mendonça fará falta a tantas mulheres que enxergavam em suas letras suas próprias histórias de abuso, violência, abandono, traição, mas também ouviam sobre festa, superação, amor. Quem compreendeu a comoção nacional, compreendeu que partiu uma menina, uma cantora que realizou a Live mais vista durante a pandemia: 3,31 milhões de visualizações no Youtube, mais que muitos artistas internacionais.

Francirosy Campos Barbosa (@dra_francirosy_campos). Antropóloga, docente associada II/USP (@usp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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