Por Cristiano Wellington Noberto Ramalho

Publicado originalmente em 20/12/2021

#AbreAspas | No último dia 2 dezembro, a Polícia Federal tornou público o indiciamento da empresa Delta Tankers, que é proprietária do navio grego NM Bouboulina, apontando-a como responsável pela maior tragédia ambiental do Brasil. Há questionamentos quanto a essa conclusão por parte de alguns acadêmicos e representantes políticos dos Povos das Águas (pescadores e pescadoras artesanais).

E o que foi essa tragédia ou, como classificam – hoje – os movimentos sociais da pesca, o crime do petróleo?

No dia 30/8/2019, pequenos fragmentos de petróleo alcançaram o litoral nordestino. Pouco tempo depois, por volta de outubro do mesmo ano, grandes ondas/manchas chegaram aos rios, estuários, praias e corais. Mais de 1.000 localidades em 11 estados, principalmente nos 9 que se situam na região Nordeste (mais Espírito Santos e Rio de Janeiro no Sudeste), tornaram-se alvo do petróleo até janeiro de 2020. Foram mais de 5.300 mil toneladas retiradas da natureza nesse período.

Estima-se que, por baixo, de 350.000 pescadores e pescadoras artesanais sentiram o bloqueio em suas rendas em todo Nordeste, somando-se ao incalculável – e também informal – contingente de trabalhadoras(es) ligadas à cadeia produtiva pesqueira.

Durante 90 dias, de outubro de 2019 a meados de janeiro de 2020, a economia pesqueira artesanal colapsou, pois todo o comércio de pescados foi impactado devido ao receio de contaminação que se abateu sobre seu mercado consumidor, independentemente do produto ter vindo ou não de região atingida pelo petróleo. Por parte do poder público, principalmente o Federal, inexistiu ações de amparo aos Povos das Águas.

Tudo isso fez com que esse grupo social se tornasse um dos mais fragilizados para enfrentar a pandemia da Covid-19 quando a mesma espalhou-se pelo Brasil, a partir de março de 2020.

Cristiano Wellington Noberto Ramalho. Professor e pesquisador do Núcleo de Estudos Humanidades, Mares e Rios (Nuhumar) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS)/UFPE (@ufpe.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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