Por Jorge Chaloub
Publicado originalmente em 26/01/2022
#AbreAspas | Morto aos 74 anos, Olavo de Carvalho era um dos protagonistas da ultradireita brasileira e uma das principais vozes contrárias à ordem democrática de 1988. Escreveu em muitos veículos da imprensa, como o jornal O Globo e a Revista Bravo, e redigiu obra ensaística que ia da astrologia às interpretações sobre a política brasileira. Ganhou ao longo das últimas décadas grande destaque, a partir das redes sociais e do mercado editorial, como violento crítico do sistema político brasileiro, da cultura nacional e das esquerdas. Por meio de uma retórica agressiva, frequentemente atacava pessoalmente adversários e defendia a violência como método político aceitável contra inimigos.
Os textos de Olavo de Carvalho articulavam um eclético repertório de ideias das direitas e extrema-direitas norte-americanas, europeias e brasileiras, com ecos do conservadorismo do Instituto Brasileiro de Filosofia, de Antonio Paim e Paulo Mercadante, traços do tradicionalismo de Rene Guenon e uma marcada influência das ideias, e do estilo de polemista público, de parte do neoconservadorismo e do conservadorismo norte-americanos.
Por esses caminhos, ele constrói uma crítica reacionária à modernidade – a partir de uma concepção teológica e, por vezes, mística de política- , retoma certa ideia de ordem perdida, no Brasil e no Mundo, e sugere um Ocidente próximo ao imaginário de certo conservadorismo norte-americano, que tolera o mercado e o capitalismo pelo que eles carregam de tradição. A difícil conciliação coerente de todas essas ideias não era um problema para ele que, como boa parte da ultradireita contemporânea, recusa explicitamente as ideias de sistema e totalidade.
Cultor de uma retórica conspiracionista, que via o Brasil e o mundo imersos em uma grande articulação globalista, Olavo de Carvalho foi uma voz constante a favor de políticas negacionistas no enfrentamento da Covid-19. À despeito do esforço para negar a pandemia, tornou-se mais uma das suas vítimas.
Jorge Chaloub. UFRJ (@ufrj.oficial)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.