Por Rosamaria G. Carneiro

Publicado originalmente em 31/01/2022

#AbreAspas | Se o Brasil é reconhecido mundialmente por algumas de suas políticas de saúde, a Política Nacional de Imunização (1973) é definitivamente uma delas. Doenças como sarampo e poliomielite foram erradicadas depois de décadas de sofrimento populacional graças a essa política.

Essa história virtuosa, contudo, não tem encontrado respaldo nem amparo estatal na maior crise sanitária dos últimos séculos. Em meio a pandemia de Covid-19, com mais de 600 mil mortos, o atual governo minimiza e dificulta a vacinação do público infantil. Na contramão de todos os demais países, o Brasil foi o único a abrir – em dezembro de 2021 – uma consulta pública nacional para que a população pudesse opinar sobre a vacinar ou não as crianças brasileiras. Isso aconteceu depois da ANVISA já ter autorizado a administração da vacina em crianças entre 5 e 11 anos. Enquanto isso, Jair Bolsonaro declarou por mais de uma vez que não vacinaria sua filha de 11 anos e que os efeitos da vacinação seria uma “incógnita”.

Na agenda neoliberal, de extrema direita e notadamente negacionista, temos assistido hodiernamente ao aprofundamento da privatização e familiarização dos cuidados. Colocou-se em dúvida a eficácia da vacina, difundiu-se a desconfiança tornando pais e mães os únicos responsáveis pelo cuidado de seus filhos.

Felizmente, a sociedade civil, algumas sociedades pediátricas, profissionais de saúde e políticos se mobilizaram em prol da vacinação infantil, questionando todas as tentativas de seu atraso. Quanto às crianças, o que podemos concluir é que para esse governo as mesmas parecem não existir e tampouco lhes dizer respeito. Elas compõem o grupo das pessoas e dos corpos que não parecem importar, inscritas nas políticas da morte hoje operantes no Brasil. No dia 14 de janeiro de 2022, a contrapelo das tentativas do governo federal, afortunadamente, a primeira criança brasileira foi vacinada em São Paulo. Diante de tanto descaso e horror, porém, a vida insiste em seguir.

Rosamaria G. Carneiro. Universidade de Brasília (@unb_oficial).

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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