Por André Nahoum

Publicado originalmente em 09/02/2022

#AbreAspas | Em um podcast de ampla audiência nacional, o apresentador Monark (Bruno Aiub) defendeu que a lei brasileira amparasse a existência de um partido nazista e que “se um cara quisesse ser antijudeu, eu acho que ele tinha o direito de ser”. Como já havia feito no ano passado, justificando atitudes racistas, Aiub defende discursos e práticas de ódio étnico, racial e religioso que excluem outros dos mesmos direitos de expressão, e de existência. Com concordância do Deputado Federal Kim Kataguiri, e a objeção de Tábata Amaral, o apresentador defende a liberdade de ser intolerante contra judias e judeus. Vale lembrar que o alvo das práticas de extermínio do Nazismo incluiu, além de judeus, romani, testemunhas de jeová, LGBTQIA+, dissidentes políticos, deficientes, eslavos e negros. Todas essas populações são agredidas pelo discurso do apresentador. O regime nazista também ceifou, desde sua origem, a liberdade de expressão.

Ao propor uma revisão das normas que criminalizam as organizações de cunho neonazista, o apresentador também propõe que nossos legisladores revejam o compromisso que o Brasil adotou de combater os discursos de ódio e práticas de preconceito por raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Sem a defesa desse espaço de existência plena para a alteridade, não há liberdade de expressão, pois essa liberdade, ainda que exercida individualmente, é um direito coletivo: o reconhecimento mútuo da condição de expressão de todos os membros de sociedades plurais é condição para que se possa falar em liberdade.

O apresentador se retratou posteriormente alegando embriaguez. O álcool não é pretexto, e sim um lubrificante utilizado socialmente para revelar sentimentos que ferem valores coletivos.

Ainda que o episódio seja de particular gravidade pelo amplo alcance do podcast, o episódio não é isolado. Os episódios de antissemitismo vêm aumentando no Brasil, como documentado no relatório produzido pelo Observatório Judaico de Direitos Humanos no Brasil Henry Sobel.

André Nahoum. USP (@usp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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