Por Fabiano Mielniczuck

Publicado originalmente em 02/03/2022

#AbreAspas | A Guerra nem bem começou, e já temos um veredito.

A guerra foi motivada pela fome de poder de Putin, descrito como autocrata corrupto, que teme a democracia no país vizinho, e que está colocando em prática um plano expansionista que remete ao passado “imperial” da URSS. Os seus desdobramentos são claros: os russos estão perdendo o combate, visto que não conseguiram tomar o segundo maior país em extensão territorial da Europa, que possui quase 45 milhões de habitantes, em 05 dias. Isso se deve, em parte, à incompetência russa – abundam relatos de caminhões e tanques de guerra russos abandonados por não terem combustível. Porém, é ao herói Zelinsky que devemos nosso reconhecimento: líder que conclamou os cidadãos ucranianos a darem sua vida pela pátria, com direito a tutoriais em páginas governamentais no Facebook ensinando civis a fazerem coquetéis molotov e à distribuição de milhares de Kalashnikovs à população. Assim, as perdas militares na Ucrânia são quase nulas (alguém leu ou ouviu a respeito na imprensa “Ocidental”?), e as baixas russas já ultrapassam a casa dos milhares. Motivada pela ação “irresponsável” e “irracional” de um louco megalomaníaco e combatida por um herói que conta com o apoio do mundo civilizado, o conflito já tem seus vencedores e perdedores.

O maniqueísmo é tamanho que a suspeita de que as coisas são diferentes torna-se evidente. Porém, a caricatura acima se consolida e faz lembrar as relações entre poder e conhecimento traduzidas pela noção de “regime de verdade”, ao limitar o dizível a respeito de um determinado objeto. Contra essa simplificação o antídoto é o conhecimento crítico, e o espaço para sua emergência surge com o pluralismo de visões bem informadas sobre a Guerra. A universidade e a ciência política têm um papel importante a cumprir pela frente.

Fabiano Mielniczuck (@fpmiel). Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFRGS (@ufrgsnoticias)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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