Por Marcos César Alvarez

Publicado originalmente em 05/05/2022

#AbreAspas | De acordo com notícia veiculada na imprensa, o atual governador de São Paulo afirmou que “bandido que levantar arma vai levar bala”.

A frase foi pronunciada em divulgação de operação policial para combater roubos envolvendo falsos motoristas de aplicativo na cidade de São Paulo. Nesta direção, alguns cidadãos podem ter se sentido acolhidos pela autoridade, que estaria identificando situações de violência e
respondendo às percepções legítimas de medo e de insegurança da população.

Em outra direção, não é possível ignorar que o contexto já é igualmente de campanha eleitoral, tensionada por ameaças de golpe, discursos em favor da tortura e da ditadura e contrários ao Estado de Direito.

Os assassinatos de Anderson e de Marielle, ainda não solucionados, bem como a insegurança cotidiana, que afeta sobretudo indígenas, pobres, negros, mulheres e minorias, são exemplos de que no Brasil a retórica da violência nunca é sem efeitos e manifestações neste sentido deveriam causar desconforto.

É no entrecruzamento desses contextos que a frase ganha contornos mais preocupantes e não pode ser tomada como simples manifestação de uma autoridade legítima, preocupada com a segurança pública.

A construção de “inimigos sociais” sempre produz efeitos nefastos. No caso brasileiro, desde a redemocratização, um discurso contrário aos Direitos Humanos – que se expressa em frases como “bandido bom é bandido morto”, “Direitos Humanos para humanos direitos”, “atirar na cabecinha” – tem ajudado a corroer os valores democráticos.

Resta a esperança de que, nas próximas eleições, a maioria do eleitorado rejeite os arroubos autoritários e que a ordem democrática volte a ser defendida no âmbito da legalidade e sem nenhum tipo de apologia à violência.

Marcos César Alvarez. Núcleo de Estudos da Violência/USP (@usp.oficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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