Por Lidiane Maciel

Publicado originalmente em 13/03/2023

#AbreAspas | No Brasil, desde 1980, são inúmeros os trabalhos científicos que investigam a condição dos trabalhadores rurais das colheitas, chamados quase sempre de “boias-frias”. Destaca-se entre eles os esforços do Grupo TRAMA, coordenado pela Profa. Maria Aparecida de Moraes e Silva e do Observatório das Migrações de São Paulo, coordenado pela Profa. Rosana Baeninger. Sabe-se por meio da produção desses grupos, que quando a colheita não é mecanizada, os trabalhadores rurais são majoritariamente migrantes temporários, que saem dos rincões deste País em busca de melhores condições de vida. E ainda, que são braços mais que necessários à sustentação da produção agrícola no Sul global. Mas de fato, o que o caso dos trabalhadores resgatados nas vinícolas de Bento Gonçalves nos ensina sobre o agro brasileiro? E, especialmente, sobre o que faz o “brasil, o Brasil”, parafraseando Roberto Damatta.

Nos últimos anos, as fiscalizações do Ministério Público do Trabalho, também em parceria com pesquisadores engajados e a sociedade civil organizada, revelaram o amargo da açúcar e do café, o azedume da laranja, o lado sujo do combustível limpo, e mais recentemente, a desarmonia e o aroma de trabalho análogo à escravidão no vinho brasileiro.

Todavia, verifica-se que as denúncias e “resgates” não são suficientes para a mudança da estrutura de exploração do trabalho migrante, é necessário políticas públicas trabalhistas atentas as condições de trabalho. Estratégias racistas, com a manutenção de trabalhadores em condições análogas à escravidão, ainda são necessárias para o aumento do capital agrário no Brasil, uma estratégia conhecida pelas elites nacionais cujo resultados positivos são certos. Logo, o caso aponta para elementos sistêmicos muito bem definidos e fala de nossa condição histórica social e econômica.

Texto e foto: Lidiane Maciel, Socióloga (Núcleo de Pesquisa-ação em Cartografias Sociais – Universidade do Vale do Paraíba, Univap).

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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