Por Marina Carvalho Paz
Publicado originalmente em 17/04/2023
#AbreAspas | Os ataques ocorridos em escolas brasileiras são uma modalidade de violência que se destaca de outras práticas violentas com as quais, lamentavelmente, estamos acostumados em nossa sociedade (a exemplo do homicídio). Expõem um problema que exige uma resposta urgente, mas cuja natureza não compreendemos completamente.
São, na verdade, fenômeno recente na história do Brasil, mas que se apresenta de modo persistente e crescente. O primeiro caso ocorreu em 2002, em Salvador/BA, embora o mais conhecido seja o do Realengo/RJ, ocorrido em 2011. Nos últimos 21 anos foram 23 atentados, nos quais 39 pessoas morreram e 70 ficaram feridas. Do início de 2022 até abril de 2023, foram 12 casos envolvendo ataques a escolas, muitos com crianças sendo vitimadas em um espaço que, teoricamente, deveria ser seguro para elas.
Os autores, homens jovens, possuem perfis similares, com envolvimento com discursos de extrema direita e movimentos neonazistas/fascistas. Eles emergem de uma subcultura do ódio e da violência, e se ressentem de outros grupos sociais, como mulheres, negros, LGBTQIA+. Muitos desses indivíduos encontraram nas redes sociais solo fértil para disseminação de seu ódio e espaço para criar novos laços afetivos e de incentivo à própria violência.
Esses ataques exigem o enfrentamento de temas complexos, que vão desde a mediação das redes sociais, ao controle do que é consumido por jovens, até os desafios para o desenvolvimento de uma cultura de paz nos espaços escolares e promoção da diversidade e respeito. Reivindicam que nós, cientistas sociais e sociedade, reflitamos sobre esse novo horizonte social que se desenha.
Marina Carvalho Paz. Pesquisadora do NEVIS/UnB e InEAC/INCT da UFF.
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.