Por Renato Perissionotto

Publicado originalmente em 19/04/2023

#AbreAspas | Lamento profundamente a morte do professor Boris Fausto. Não tive a felicidade de conhecê-lo pessoalmente, mas perdemos uma referência sempre presente ao longo de minha carreira. Suas ideias influenciaram minha formação em ciências sociais e inspiraram a minha produção intelectual, do mestrado ao meu mais recente livro.

Seus textos me forneceram instrumental precioso para interpretar a dinâmica política e social da Primeira República. Foi a partir de sua proposição de que existia então uma “estrutura regional de classe”, formulada em “Pequenos ensaios de história da República”, texto de 1972 nos Cadernos Cebrap, que pude criticar no meu mestrado a redução dos conflitos de classe à dimensão regional, muito recorrente na historiografia sobre o período; foram suas considerações sobre a autonomia do Estado brasileiro nos mesmos anos e suas observações sobre o caráter de classe do Partido Democrático, publicadas em A Revolução de 1930, de 1969, que me permitiram pensar, no meu doutorado, a tensão entre o Estado e os setores dominantes da economia agroexportadora e a importância dos conflitos internos ao bloco no poder para se entender 1930; foi sua análise da historiografia sobre o período que me permitiu entender a posição do meu trabalho frente ao que então vinha sendo produzido sobre a Primeira República; foi, por fim, o seu trabalho comparativo sobre Brasil e Argentina, em coautoria com Fernando Devoto, Brasil e Argentina: um ensaio de história comparada (1850-2002), de 2005, que me deu segurança para seguir adiante com meu estudo comparado sobre a industrialização nos dois países vizinhos.

Creio que é tudo o que todos nós, cientistas sociais, almejamos: formular boas ideias e boas interpretações que instiguem gerações futuras. Foi o que me deu o professor Boris Fausto.

Renato Perissinotto. UFPR

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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