Por Paulo Victor Leite Lopes
Publicado originalmente em 30/06/2023
#AbreAspas | Observamos nas últimas décadas a proliferação e segmentação das/es/os sujeitas/es/os reunidas/es/os em torno daquilo que se convencionou chamar de “diversidade sexual e de gênero”. Respondendo a demandas individuais e coletivas, políticas e acadêmicas, nossas identidades se ampliaram chegando à composição LGBTQIAPN+. No desejo de alcançar reconhecimento e protagonismo, cada um desses segmentos estabeleceu datas alusivas às lutas e experiências. Não obstante, o dia 28 de junho permanece no horizonte político e cultural como elo das experiências que escapam à cisheteronormatividade.
Em muitas avaliações, essa segmentação é apontada como empecilho ao avanço de pautas coletivas. Essas leituras, vale destacar, em alguns contextos podem funcionar. Mas esse efeito não é imediato nem um destino inescapável. O Dia do Orgulho, em sua capacidade de agregar e celebrar, nos lembra disso.
Se em sua origem está uma experiência de violência e a reação contra esses atos, é possível pensar que a alusão ao Orgulho produza significados que vão além do relato e denúncia de experiências de violação de direitos – sem deixar isso de lado, evidentemente. Na radicalidade das divergências e diferenças que produzem a comunidade LGBTQIAPN+, é preciso reconhecer que o 28 de junho aponta para a possibilidade de, observando as nossas heterogeneidades, produzirmos coletividades e experiências de orgulho em conjunto.
Em sua fala na Parada do Orgulho de São Paulo, o ministro Sílvio de Almeida destacou o orgulho “das lutas que lutamos, das batalhas que vencemos” e por estarmos vivas/es/os, a despeito das experiências que colocam isso em xeque. Em adição à sua convocação, é preciso reconhecer a importância e as conquistas desse processo, nada simples ou fácil, de lançarmos luz às nossas diferenças e conflitos, encontrando, ao mesmo tempo, espaços-tempos que nos mantenham reunidas/es/os e orgulhosas/es/os do outro e dessa coletividade.
Paulo Victor Leite Lopes. UFRN; Comissão de Direitos Humanos da ANPOCS
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.