Por Nina Fola

Publicado originalmente em 08/12/2023

#AbreAspas | Nego Bispo, negro, nordestino, quilombola, ocupa as redes sociais com a notícia de sua partida por consequências da Diabetes – parada cardíaca. Nascido e batizado em 10/12/1959, pelo nome colonial de Antônio Bispo dos Santos, no Vale do Rio Berlengas no Piauí, tem sua intelectualidade formada pelas mestrias mães e avós quilombolas do Saco Curtume – São João do Piauí – sendo o primeiro da família a ser alfabetizado em escolas regulares, completou o ensino fundamental.

Nos últimos anos, Nêgo Bispo despontou nos círculos de debates onde a produção de conhecimento vindo da Terra organizou suas frases de efeito, desacomodou teorias e ideologias estruturadas pela colonialidade do saber. Bispo foi um homem orgânico: plantava inquietações, lavrava novas palavras e colhia afetos por onde passava.

Mesmo já tendo escrito os livros – Quilombos, modos e significados (2007); e Colonização, Quilombos: modos e significados (2015) -, foi com a pandemia da COVID19, nas Lives, que Nego Bispo fluiu em diversos espaços, dando maior popularidade aos seus pensamentos. Antes, Nego Bispo corria por fora, nas margens, nos movimentos sociais e políticos, abrindo fendas com suas palavras faladas e escritas em poesia. E, no crescente reconhecimento de seu trabalho, se negou a receber um título de Doutor Honoris Causa, pois sabia de onde brotava sua intelectualidade, confrontava com a produção do saber da sociedade colonizadora e se afirmava como um meio, tradutor de conhecimento de sua/nossa ancestralidade negra e quilombola, potencializando a confluência de saberes. Sua passagem ocorre após lançar seu último livro – A terra dá, a terra quer (2023), num prenuncio de que sua partida nada mais é que a biointeração inquieta, virando semente germinante da produção de conhecimento que vem da Terra – início, meio e início.

Nina Fola. Mulher negra e de axé, doutoranda em Sociologia – PPGS UFRGS

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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