Por Nilma Gomes

Publicado originalmente em 11/12/2023

#AbreAspas | A Anpocs presta homenagem ao intelectual e mestre quilombola Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nego Bispo. Seu pensamento contracolonial trouxe profundas contribuições e inquietações para as ciências sociais e humanas ao indagar as relações de poder presentes na formação sócio-histórica e cultural brasileira a partir da perspectiva quilombola.

Morador do Quilombo Saco-Curtume, localizado em São João do Piauí, expandiu a sua ação política e epistemológica para outros quilombos e lutas dos povos marginalizados. Um incansável ativista político e militante do movimento social quilombola que com agudeza e liberdade de pensamento socializou os saberes ancestrais nos quais foi formado.

Sua intervenção, ativismo político e epistemológico contra a sociedade colonialista produziram um conhecimento vivo. Sendo um mestre, forjado na luta pelo direito de ser, pensar e existir, uma de suas ações ao longo da vida foi manter o legado ancestral quilombola, ressignificá-lo e difundi-lo para o país.

Por meio das suas palestras, poesias e livros o quilombo e a luta quilombola ganharam maior visibilidade no Brasil e nos meios acadêmicos. Com ele aprendemos ainda mais como os quilombos são territórios de resistência que produzem conhecimentos, modos de viver, cosmovisões, culturas, conceitos e tecnologias que disputam e rivalizam com a lógica e as práticas coloniais hegemônicas em nossa sociedade.

Suas provocações indagaram a ciência e o campo acadêmico como um todo. Por meio do uso criativo da linguagem e de um discurso insurgente Nego Bispo construiu conceitos inovadores, realizou críticas profundas ao modo de vida da sociedade capitalista e nos fez avançar epistemologicamente. Introduziu uma nova gramática para falar sobre os processos de exploração e de resistência.

Seu legado tem reeducado, principalmente as novas gerações, que encontram em seu pensamento a inspiração necessária para a construção da liberdade epistemológica.

Nilma Gomes. UFMG

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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